Na Benfeita é tudo bom. Come-se bem. No Natal são a tibornada, as filhós. Na noite de Natal vem a família. Juntamo-nos todos. Há muita gente que não faz, mas a gente geralmente em casa é tibornada. Temos batata cozida com couves e bacalhau. Ao fim daquilo estar cozido, tira-se-lhe a água. Escoa-se bem escoado e mete-se-lhe o azeite para dentro. O azeite, quando está a ferver a gente mexe aquilo muito bem mexido. Aquilo fica assim tudo mastigado. Também leva um bocadinho de alho. Depois serve-se aquilo. É muito bom. Há também o arroz de fressura, há a chanfana, que também é das boas que se comem cá na terra. Essa não vem lá do estrangeiro. A gente quando quer carne boa chega aí ao magarefe:
- É pá! Quando tiveres uma coisa boa traz, que preciso.
Geralmente costumamos comprar uma cabra, uma ovelha, um carneiro e depois meto na arca. Mas não compro isso a chegar às festas, é antes. Porque nas festas eles vendem tudo e mais alguma coisa. Então, eu falo com eles:
- Preciso disto assim, assim.
Eles lá se encarregam de me arranjar a carne. Às vezes manda-me carne que parece vitela. Uma vez comprei um carneiro deu 56 quilos. A carne do carneiro parecia vitela. É verdade.
Também tinha que se comer bacalhau e sardinha, peixe. Bacalhau naquele tempo era assim um bocado mais fugidio. Custava dinheiro. Era mais a sardinha. Hoje é a sardinha que está mais cara que o bacalhau. Era sardinha frita, sardinha assada e assim se passava. Vinha o sardinheiro e depois havia umas senhoras que lhe tiravam o peixe e vinham vender às portas. Uns dias era um bocado de carne. Era ao domingo sempre quando se melhorava a comida. Sempre se comprava um bocado de chanfana para se fazer ao domingo. Ou se matava um coelho ou uma galinha. Ao domingo era sempre assado.