Noutros tempos havia muita azeitona. Há cá bom azeite. Este ano apanháramos 80 litros de azeite. Eu mais a minha mulher sozinhos. Hoje ainda há muita azeitona, mas metade dela ou mais ainda ficou nas oliveiras. Já ninguém liga. Hoje, uma pessoa a pagar a pessoal de fora para apanhar a azeitona não compensa. Vai-se para o olival apanha-se a azeitona e depois vai para o lagar. Do lagar trazemos o azeite. Noutros tempos, tínhamos um lagar ao pé do senhor Artur e tínhamos outro à saída da Benfeita. Havia outro a seguir à Dreia e um ao fundo da ermida da Senhora das Necessidades. Eu sei lá! Havia quantos lagares da Benfeita até Côja, na ribeira. E chegavam a trabalhar todos.
Aquilo tinha os donos dos lagares. Nós levávamos lá a azeitona e eles tiravam a maquia deles. Nós trazíamos o que eles nos queriam dar. A azeitona, quando era assim de fora tinham que ir, chamávamos um carreiro, com os bois. Havia um ensacador. Iam aí para as povoações ensacar e depois os bois transportavam para o lagar.
No lagar aquilo é assim: chegava, eles descarregavam, depois aquilo era por ordem. Quem estava primeiro é que seguia. Punham para dentro do pio, moíam a azeitona. Ao fim de estar moída ia para uns capachos ou umas seiras. Depois ia para umas prensas e aquilo era apertado, à mão. Às vezes, quando era miudinho íamos para lá, de noite, pimba, pimba. A puxar a tranca da coisa. Quando aquilo estivesse espremido ficava ali a descansar. Daí a muito tempo, tiravam aquilo fora, era lavado. Depois tornam a apertar, ia lá para as tarefas. Aquilo era muito bem escaldado. A água ia para o fundo e o azeite ficava ao de cima.
Depois tinham vasilhas do lagar ou bidões. Umas latas que eles tinham. Transportavam aquilo às costas, para casa dos donos do azeite. Cheguei a trabalhar lá no lagar, ensacador. Às vezes agarrava no bidão de 50 litros e ia “pia cima” direito ao Sardal com o bidão às costas, dentro de um saco. Ia a casa das pessoas.