Lembro-me do dia do exame da terceira classe. Fiz a prova escrita de manhã e depois, de tarde, fiz a prova oral. De manhã, era a prova escrita: os problemas e as contas. A prova oral era a leitura. Era ler. O exame foi ali no Areal. Vinha cá um professor de Arganil.
No dia do exame, estreei os primeiros sapatos novos! Andava com uns sapatos das minhas irmãs. Nesse dia, calcei os sapatos novos. Eram bonitos! Jeitosos. Ia toda contente porque, nesse tempo, calçávamos mal. Iam descalços. À semana, andávamos com umas tamanquitas com brochas por baixo. E, quando íamos ao mato, vínhamos descalças na geada e onde calhava, porque as tamancas escorregavam nas penedas e nós caíamos. Custava, mas também não podíamos cair. Era pior. Passávamos muito mal, muito frio. Mal agasalhadas, mal calçados.
Depois do exame, cheguei a casa, tirei o vestido e fui para as pinhas. Era assim a nossa vida.