Costumavam dizer que era a Benfeita mal talhada. Não sei. Era o “alcunho” que punham aqui. Quase todas as pessoas tinham um “alcunho”, também. Diziam que era mal talhada, mas ainda era bem bonita. Para mim, significa a minha terra, sempre. Quando estávamos longe, pensávamos sempre na nossa terra. Temos sempre aquele pensamento cá, no que se cá passava, no que nós víamos e tudo. Eu gosto da minha terra. No Verão é que é bonito. Está a Fraga da Pena, está a piscina, que agora fizeram e está lá em cima a Torre Salazar.
Não sei em que altura foi, que já não me lembra o ano. Ainda era miudita quando eles fizeram a torre. Chamavam a Torre Salazar. Fizeram aquela torre muito alta e ainda era para ser mais alta. Mas depois as pedras eram muito pesadas e podia cair cá para baixo, para cima das casas. Tinham medo de ela cair e deixaram-na por ali. A estrutura foi estreita e eles já não puderam encamar mais pedras. Só fizeram aquela altura. A Torre Salazar era a Torre do 7 de Maio. Foi quando acabou a guerra. A guerra de 1918. Todos os anos, vamos lá cantar o 7 de Maio:
“E o 7 de Maio
Nunca esquecerá.
O sino, escutai-o,
Ele vos lembrará
Que foi nesse dia,
Que por toda a terra,
Uma voz corria:
Acabou a guerra,
Chorai de alegria!
Ó gente boa e amiga,
Venha à Benfeita e verá,
Junto à capelinha antiga,
Ouvir o Sino da Paz.
Aquela torre altaneira
Dedicada a Salazar,
Com raminho de oliveira
E uma pombinha a voar.”
Todos os anos lá vamos cantar o 7 de Maio.