Quando estávamos doentes, íamos ao médico a Côja ou a Arganil. Aqui, havia dois senhores que eram uns bons enfermeiros. Não tinham a profissão, mas sabiam. Ajeitavam-se muito bem a curar quando a gente cortava os dedos. Lá lhe botavam uns gatos e curavam a gente. Limpavam as feridas com um bocadinho de gaze e álcool ou não sei quê. Água oxigenada, acho que nem havia, naquela altura. Era álcool a arder ali. E por doença, constipação, também receitavam qualquer coisa. Se a gente fosse a um médico, ele não dizia muito mais. Este aqui, chamavam o Solaia e o outro era o tio Zé Augusto. Nunca vim lá ao Solaia, agora, ao tio Zé Augusto, vim lá muita vez.
Cortei este dedo e parte levantou, mas cortei-me a uma sexta-feira e só lá vim ao domingo para me curar. O dedo já estava, coitado, torto e um bocadinho da carne já estava virado para baixo. Então, ele obrigou-me a estender a mão em cima da mesa. O sangue a correr para dentro dum balde. O dedo teve de ir ao lugar que era para aquela carne levantar para ele conseguir colar no lugar. Não dava nada para as dores. Ali era aguentar. Depois, claro, estava o dedo e a mão muito inchada. Ele espetava os gatos e apertava. Quando ia apertar, a carne rasgava. Eu sei lá quantas vezes é que ele espetou aquilo. E lá tornava outra vez. Aquecia o gato ao candeeiros e depois vinha apertar. Quando se abria um prato ao meio, punham-lhe uns gatos. Ora, isto era a mesma coisa. Ele punha também aqui uns gatos. E então ia apertar e a carne rasgava, porque estava muito inchada. Mas ainda o dedo não ficou muito mal. E eu bem ficava com o dedo aleijado se ele não me obriga a fazer aquilo. Às vezes, vale mais sofrer numa hora que olhar toda a vida para o mesmo.