Até foi bom. Aquilo era bom. Porreiro. Foi mal-empregado. Era um grande país. Fruta, carne, tudo. A gente, na altura, chegava lá, comprava, por exemplo, meia vaca, que era baratíssimo. Iam ao campo, onde elas andavam a pastar, davam-lhe um tiro, matavam-nas, 90 rands na altura. A vida era boa mesmo. Era uma vida porreira. Mais tarde, começou “cá te ganho, cá te deixo”. Estive lá oito anos e foi onde me safei. Não estou rico, mas era melhor. Melhorei, arranjei esta casa. Isto agora nem para a mobília tinha. A vida de emigrante é um bocado... Sofre-se muito. A malta sabe.
A vida é assim. É como o cigano. Saco às costas e aí vai ele. Emigrante sofre um bocado. Até que se a gente adapte, oh, cuidado. Sofre-se um pedaço. Depois, vai-se adaptando, adaptando, adaptando e pronto. Mas a emigração é ruim, mesmo. É ruim. Dizem: “Vai-te embora que não és aqui... estás-nos a tirar o nosso trabalho”. Bem, nós até éramos considerados bons operários. Na altura, precisavam lá de operários. Queriam pessoal branco para lá. Não tenho razão de queixa em nada, nada. Em todo o lado eram portugueses. Praticamente, as obras eram cheias de portugueses. Não tínhamos nada disso, mas enfim... Eles também não gostariam de ver a gente, sem dúvida nenhuma. É como eu estava a dizer, tirava-lhe o trabalho. Mas eles gostavam lá de nós. Só diziam que nós tínhamos uma coisa: não nos fazíamos para onde íamos. Não nos adaptava a casarmos. Eles queriam que formasse família, porque precisavam de brancos, mas nós não gostávamos de casar com as mulheres de lá. O português era sempre para a aldeia, sempre para a terra. Tínhamos um feito ruim. Estávamos sempre com a coisa para vir para a terra. Era o que eles diziam. Sempre com a coisa da terra. Lá um ou outro não, mas gostavam sempre de ir à terra. O madeirense é que se faz lá muito. Já se adaptam muito lá. Esses é. É assim. E cá estou. É claro, tudo se passa e cá estamos. Agora até à última etapa.