De manhã, vou tratar das batatas. Vou ali cultivar um bocado de milho. Ainda criei ali uns 15 alqueires, 1 moio. Tenho um motor, rego aquilo um bocado de manhã. Distraio-me mais a mulher. Às vezes, vou ali buscar uns grelos. Ainda vou lá para o campo “pia fora”. Pego a minha volta pelo campo fora. Tenho a minha hortazinha, tenho as minhas coisinhas, temos ali nabiças, grelinhos, tenho ali bons pimentos e tomates, tudo. Tenho ali um bocadito que não é meu, mas cultivo. Só para desprezar, que não posso lá andar a subir os degraus. Tenho a franganada, bons frangos para matar outra vez. Vêm os filhos, há sempre para assar. Tenho-os ali para matar que é uma maravilha, que eu crio-os à maneira. Dou-lhes um bocadinho de ração. Não se pode falhar. Mas dou-lhes bom milho, junto com trigo. Hoje, cria-se um frango mole, mas criando-se aqui já anda cá rijo. Num frango destes, é sempre rijinha a carne. E canja e tudo. Ela é raro fazer, que eu não sou muito de canja, mas os filhos chegam a bom tempo. Dizem:
- “Ó pai, é muito diferente.”
Não que não é! E os ovos. Ela tem sempre não sei quantas dúzias de ovos. Os meus filhos também são meus amigos e eu sou amigo deles. Trazem muita coisa. Sabem com quem lidam.
E é assim. Está-se aqui. E a manhã passa. Aqui a barraca tem sempre que fazer. Sempre fazemos qualquer coisa. Se estiver bom, vou semear mais um bocadinho de batata. Vimos para casa, faço a comida e depois a tarde passamos ali em beleza. Já descansemos. À tarde, às vezes, quando está sol, sento-me ali na cadeira a ver. O meu Bobi vê passar os aviões lá em cima com o fumo, béu, béu béu... Está sempre ao pé de mim a ver quando eles passam. E passo a minha tarde. No Verão, é bom ver as trutas lá a nadar. Vou por um lado, assento-me ali, daqui por um pouco está a tarde passada. Não posso beber muito. Os copos começam a dar cabo da gente. Fujo disso. Mas, às vezes, até me lá entretenho um bocadito, ainda pago lá dois copitos para a malta. Não faz mal. A gente conhece-se. Bebe-se lá uma imperial e está a tarde passada. Pronto. É assim a minha vida. Assim passamos a nossa vida. Aqui é que me sinto bem. Então, não é melhor que andar lá sentado num jardim ou a jogar as cartas? Eu não me entretém jogar as cartas. É muito diferente. E toda a gente devia ser assim: voltar ao campo.