A gente aqui tínhamos muitos bailaricos. Muitos bailaricos. Havia os pavilhões no tempo do São João. O meu pai abria a porta para o baile no dia de Natal. Acabava no dia de Carnaval. Era ao sábado à noite e ao domingo à tarde e à noite. Nós mais pequenas também queríamos dançar, também andávamos no meio dos bailes. Levávamos muitas pisadelas porque aquilo era uma sala pequena e muita gente. O meu pai chegava a arrancar as janelas porque o calor era tanto que não se suportava o calor dentro da sala.
Depois tínhamos a Quinta-feira dos compadres que é perto ao Carnaval. Tiravam os compadres e as comadres, uns papelinhos. Faziam os rapazes para um lado, as raparigas para o outro. Depois aquilo era sorteado. Tirava um rapaz, tirava uma rapariga. Então ficávamos os compadres durante o ano. Depois tínhamos a valsa do bufete. Todos os bailes era a valsa do bufete que íamos. O meu pai vendia uma ginjinha e anis e capilé. Chamavam capilé. Então todos os bailes o par que a gente andasse a dançar era a valsa do bufete, a gente tinha que ir ao bar beber. Quem queria bebia um refresco, quem queria bebia uma ginjinha. Eles bebiam vinho ou bebiam o que entendessem, mas a gente ia ao bufete todos os dias que havia baile.
Fazíamos aqueles fados muito grandes que saíam da casa do meu pai. Davam a volta toda à Benfeita e parávamos aqui, parávamos além a fazer o fado trabalhado. Não era só o fado, fado. Trabalhava, dava aquelas voltas. Tínhamos muitas maneiras de dançar o fado em cruz. Era muito bonito, era muito bom. Agora não há nada disso. Com muita pena não há nada disso.