As brincadeiras de criança eram complicadas. Jogávamos à bola com uma bola de trapos. Numa meia, púnhamos coisas para dentro, panos, e jogávamos assim. Jogávamos ao pião, ao eixo, à cabra cega, ao berlinde, enfim, várias coisas.
Havia berlindes, que eram tirados de umas garrafas que havia de uma bebida chamada pirolito. Uma esfera de vidro. Nós partíamos a garrafa quando as conseguíamos arranjar. Partíamos aquilo para tirar a esfera que, como hoje nas garrafas de whisky, por exemplo, há aquela esfera. Nós partíamos as garrafas, traquinices da juventude daquele tempo, para jogarmos ao berlinde e ao feijão. Jogar ao feijão é quase o mesmo sistema que se jogava o berlinde também. A ver se me recordo, já lá vão tantos anos... fazíamos uma cova na terra, que isto era tudo em terra, não havia asfalto, betões, cimentos, não havia nada. Era como era. Fazíamos uma cova, púnhamos a uma certa distância e jogávamos um feijão. E depois, quase como o golf, aquilo era uma imitação do golf, eu assim o entendo, metíamos o feijão lá dentro. Agora não me recordo das regras, mas sei que ganhávamos uns tantos que lá metíamos, ou que ficavam mais perto. Qualquer coisa assim, já não me recordo. Eu penso que quem metia o feijão no buraco é que ganhava, mas já lá vai há tanto tempo.
As raparigas tinham outros jogos diferentes. Às vezes, os rapazes e as raparigas brincavam juntos mas, naquele tempo, era diferente. As escolas eram separadas, enfim, era uma vida completamente diferente.