Ainda tinha lá um irmão que veio cá passar férias e esteve cá dois meses. Em tão boa altura foi, que nunca mais sequer me deu resposta a dizer se tinha chegado bem ou se tinha chegado mal. Em 15 dias que ele cá esteve as roupas que ele trazia, já não lhe serviam. Ele começou cá a comer o bom bacalhau e a beber a boa pinga, começou a inchar. Até chegou que ninguém o conhecia. Até lhe dei roupas minhas para ele usar. Ele veio para cá através da empresa onde ele trabalhava, que era a Shell, mas mais tarde, depois do 25 de Abril, virou-se para para a Enco. A empresa é que lhe pagou os transportes para ele cá vir a Portugal. Passou em Lisboa com 100 escudos em dinheiro português, e queria cá estar quatro meses. Eu virei-me para ele:
- Olha, cama e mesa está paga. Quando eu for passear tu também vais passear. De outra maneira não tenho hipótese de te dar dinheiro.
Eu não sei se ele vinha com ideias, talvez pensando que tinha cá uma grande fortuna do pai. Mas o meu avô deserdou o meu pai na altura que ele me trouxe de São Tomé, então, da parte do meu pai não herdei nada. Foi isso que aconteceu. Eu não sei se esse meu irmão vinha com ideias de vir buscar alguma herança cá do nosso pai. Mas alguma coisa que eu tenha ficado foi da minha segunda mãe. Havia um senhor que trabalhava nas Finanças em Arganil, meu amigo, e viu o perigo em que eu estava porque eu não era filho dela. Caso ela morresse não herdava nada. Então conseguiu que a minha mãe fosse fazer um testamento a Arganil, a um notário, por usofruto e raiz de tudo o que ela tinha. Então alguma coisa que eu tenha foi derivado à minha segunda mãe e não derivado ao meu pai. A verdade é essa.