O meu pai era natural de Monte Frio. Quando veio de África montou cá uma oficinazita de ferreiro. Fazia brochas aí para as socas, chamam tamancas. Ainda me recorda de miúdo ir para a Moura com ele. Levava lá as brochas, estendia-as numa saca no chão. As pessoas escolhiam e encomendavam-lhe brochas para outra vez, para o outro domingo, na missa que era na Moura. Depois ele foi trabalhar para as Minas da Panasqueira. Era onde havia desenvolvimento naquela altura e ganhava mais do que a trabalhar como ferreiro aqui. Depois morreu com uma pneumonia dupla que não se curava. Eu fiquei sem pai aos 11 anos. Portanto, fui criado só com a minha segunda mãe. Coitadinha, governava-se aí ao campo só, mais nada. Se o meu pai não tem falecido, com a indústria que ele tinha e lá nas Minas, a gente não sabe o destino, mas se calhar podia ter passado uma vida melhor. Da minha segunda mãe todas as recordações são boas. Há pessoas que empregam o nome de madrasta mas eu não gosto de empregar esse nome. Parece-me um pouco pesado.