Os meus filhos nasceram na minha casa no Monte Frio. A primeira vez que a minha mulher ficou grávida estava eu na tropa. Na altura eu era chofer do Director de Serviço do Ultramar que era um general. Ele tinha vindo para Caldas de Felgueiras, para o pé de Canas de Senhorim. Eu pedi para me deixarem ir para a terra, que estava a filha a nascer. Então ele disse-me para arranjar transporte. Mas no sítio onde estava, a uns 59 quilómetros daqui, era quase mais rápido a pé do que vir de transporte. Levava dois dias até Monte Frio, ao apanhar transporte. Tinha de apanhar camioneta para Canas, de Canas apanhava o comboio para Santa Comba Dão, de Santa Comba Dão já não apanhava a carreira que vinha para a aldeia, tinha de ficar lá para outro dia. Então disse ao senhor general se me podia deixar trazer o carro. Começou logo a dizer que não. Mas ficou a matutar. Isso foi ao pequeno-almoço, e ao almoço, lá se dirigiu a mim:
- “Levas o carro mas tem muito cuidado”.
Porque ele conhecia esta zona daqui. Mas depois ele pôs-me à vontade:
- “Se for preciso chamar o médico ou levar a mulher ao médico não ocupas outro carro, levas este.”
Eu estava com a minha esposa quando a filha nasceu. Ela teve o parto praticamente sozinha. Ainda fui chamar uma senhora que se ajeitava como parteira, que morava ao fundo da povoação. Quando cheguei com a senhora já tinha a miúda nascido. Portanto, nasceu sem parteira ao pé. Mas tinha outra senhora com ela, que morava ao pé de nós, que bem a abanou. É porque percebia da coisa.