Eu toco banjo e toco flauta. Noutros lados chamam gaita de beiços, harmónicas, eu nem sei o que é que hei-de chamar. Nunca tive ninguém que me ensinasse. Quando fui para Lisboa, quis aprender e apeteceu-me comprar um bandolim, comecei a tocar um ponto. Ainda me recorda a primeira melodia que comecei a tocar. Eu só toco de ouvido, de letra não toco nada. Comecei a tocar raspa, traram traram, traram, e começaram a sair. Mais tarde, troquei o bandolim pelo banjo. Este banjo tem uma história muito engraçada.
Já morava em Lisboa e vim para cá passar a festa da terra. O meu filho era chavalo e tinha comprado uma aparelhagem. Ele não a queria trazer e eu à última da hora agarrei-a, embrulhei-a num cobertor e meti no carro. Nessa noite assaltaram-me a casa. Quem me assaltou a casa foi um vizinho, que sabia para onde a gente vinha. E roubaram-me o banjo. Eu quando depois vou para Lisboa, já depois do dia 15 de Agosto vou à Judiciária. Depois venho para a aldeia, entro na taberna da dona Saudade, que já tinha o estabelecimento quando me perguntam:
- “Ah então pá roubaram-te muita coisa?”
- Olha até o desgraçado do banjo me roubaram“.
Quando eu digo que até o banjo me roubaram o pessoal mandou um eco. Quem entra pela porta dentro? Um sujeito que era cunhado de uma pessoa que também estava em Lisboa. E disse para o cunhado:
- ”Não me digas que foi o banjo que tu compraste.“
Quer dizer os tipos roubaram-me a casa em Lisboa, andavam na Trafaria com o banjo a tocar, brum, brum, brum e o cunhado dessa pessoa comprou-o sem saber que era meu.
-Eh pá como era o instrumento?
- ”Então era assim, assim.“
- É esse mesmo!
É o que ainda tenho hoje. Tem uma grande história este instrumento. A verdade é essa, lá o consegui recuperar. Tive que pagar qualquer coisa, dar-lhe o que ele tinha dado por ele.
Eu estive muitos anos sem sequer mexer no instrumento, porque na vida de táxi lá em Lisboa, eu trabalhava sozinho, não dava para uma pessoa se treinar nem nada. Fui convidado diversas vezes para ir para o rancho de Celavisa mas eu não tinha vida para isso, nunca fui.