Eu ainda me recordo do primeiro rádio que comprei para a minha casa. Já tinha a minha filha. Eu morava na Venda Nova, já andava nos táxis. Estava casado e, nessa altura, andava a aprender inglês, lá no Sindicato dos Motoristas de Táxis. Eu gostava daquilo, da brincadeira. Quando foi a abertura do ano inscrevemo-nos 48 e quando chegámos ao final só estávamos oito. Chegava a casa, se o jantar não estava pronto punha-me a estudar inglês. Escrevia e lia e tudo. E então a mulher diz-me:
- “Se arranjássemos um rádio”.
E já tinha a minha filha e eu digo-lhe assim para ela, nunca mais me esquece.
- Mas um rádio para quê? Olha, tu és um rádio, a filha é outro e eu sou outro quando chego a casa. Já viste quatro rádios a tocar, a gente não percebe nada do que o rádio diz. Nunca mais me esqueceu esta. Depois comprei o rádio mas foi essa conversa que eu tive. Há 50 anos.
- “Ah se arranjássemos um radiozito”.
- Eu a tocar, tu a tocar, a filha a tocar ainda queres mais o rádio? Quatro? Então ninguém ouve nada.