No Monte Frio o pessoal é hospitaleiro. Uma altura veio um grupo do Porto e de Braga, que traziam desde o empregado para lhes pôr a mesa até sacos para o lixo. Tudo para fazer um piquenique. Vinham já do Piódão mas tiveram azar com o tempo, com o nevoeiro que estava um bocado a cair cacimba. Chegaram aqui ao largo com jipes de gama e tuta. Uns eram doutores, outros eram estabelecidos como pasteleiros em Braga. E foram pedir para fazer um piquenique no coreto. Imediatamente, a malta disse:
- “Não! Os senhores não fazem o piquenique no coreto. Os senhores vão comer aqui dentro, na nossa Casa do Povo.”
Desde o saco do lixo, tinham tudo tudo para fazer o piquenique, mas um piquenique à grande. Não era um daqueles à socapa. Era à grande, que eram pessoas de alta escala. Comecei a falar com as pessoas e, lá está, pensavam que na aldeia eram pessoas atrasadas. E expliquei-lhe que tínhamos tido cá a carreira, que agora acabou, por causa das boleias. As pessoas começam a dar boleias umas às outras e a carreira andava aqui sem ninguém. Agora só temos a carreira à quinta-feira que vai ao Piódão e temos as carrinhas que transportam os miúdos para as escolas. Mas tínhamos uma carreira que chegava aqui todos os dias às sete menos dez da manhã para Santa Comba Dão, em direcção ao comboio, que era mesmo um serviço combinado com a CP. E então estive a explicar. Eles ficaram encantados. Fizeram uma despesa boa e deixaram dinheiro para as obras da Casa do Povo. Até combinaram de cá para cá virem comer uma feijoada. Tem passado aí pessoas que é uma coisa formidável.