Lá consegui uma vaga para a casa do pessoal. Chamavam a essa casa a Casa da Malta. Morávamos diariamente, durante o ano todo, 22 homens. Eram cinco camas de um lado e seis do outro. Dois em cada cama. Quem estava a tomar conta dela era o pai do Ramiro. Não tinha ferros nenhuns, nem nada. Ele só tomava conta de receber as rendas e entregá-las ao dono. Aquilo antigamente tinha sido uma cavalariça por baixo. Por cima é que era um salão grande, onde a gente vivia. Para entrar lá para dentro, nós tínhamos de comprar metade dos ferros.
Chegavam no Verão, no tempo dos morangos, a morar três na cama. Era o seguinte: uns trabalhavam de noite nas garagens, então dormiam de dia. Os que iam para vender os morangos dormiam de noite e de dia iam para a venda dos morangos. Iam buscar os morangos à Ribeira, lá em baixo ao Cais do Sodré. Tinham que lá estar às sete horas, que era a hora que abria a praça. Então esses levantavam-se e deitavam-se os outros que trabalhavam de noite. Portanto, chegavam a dormir três na cama. Mas tinha que ser só malta aqui da nossa região da Benfeita. Não queriam malta de outro lado, só da freguesia.
O pai do Ramiro era do Enxudro. Os tipos que iam vender morangos também eram todos aqui da zona do Enxudro, do Sardal. Faziam a safra da sementeira e depois no fim das sementeiras, ficavam as mulheres a tomar conta dos milhos e dessas coisas e eles iam lá aos morangos. Aproveitavam lá nessa altura, para dormir lá na cama. Tive sorte com o meu companheiro. Chamava-se Albino Henriques. Tocava muito bem guitarra. Tive uma sorte formidável.
Aí então fui pagar. Foi 22 escudos por mês de renda.