Comprei uma máquina a petróleo, um prato e um garfo, um cobertor. Fazíamos o comer numa mesa muito grande. Depois punha o álcool a queimar para aquecer a cabeça da máquina de petróleo. Vinha cá baixo ao rés-do-chão buscar a água, fazia o comerzito. Passava pela mercearia, que tinha postas de bacalhau em cima de umas tampas que havia de verga. Punham a cabeça, rabo e meio em sal nas vésperas. Levava meio quilito de batatas, 2 decilitros de azeite e uma postita de bacalhau para o almoço. Não podia andar a comer nas tabernas porque não dava, connosco não dava. Até cheguei a fazer o comer com a calda do feijão que cozia ao domingo, que me durava até quinta-feira. Ao domingo cozia aquilo. Ia buscar a um talho que havia na Rua do Passadiço uns coiratos. Às vezes a minha mãe mandava uns feijõezitos e umas chouricitas, quando matava o porco. O meu almoço era feijão, com a água de cozer feijão, uma cebola migada com vinagre e um bocadinho de carne. À noite ia refogar o feijão para o meu jantar. Quando era a segunda-feira passava pela mercearia, levava as batatas e as couves e fazia uma espécie de cozido. Conseguia fazer cozido, a sopa e o comer em duas horas de almoço. Depois ficava com o resto do cozido para o jantar e aquela sopa ia-me dando, às vezes, até a quinta-feira.