O meu patrão gostava muito de copos. Então vinha para a entrada da rua de Arroios, havia lá uma tabernita, mais um sujeito da pensão, que era a Pensão Luanda, que ainda lá está. No intervalo ele ia lá beber um copito e às vezes negociar a palha de centeio com uns tipos de Samora Correia e a palha de milho que era da Chamusca. Enquanto eles lá iam beber o copito eu agarrava num trapito e ia para a máquina, para trás e para a frente, para a frente e para trás. Às vezes desenfiava a máquina. Então para o patrão não ver que eu tinha o trapo cheio de linhas, nem para o caixote o punha, enfiava-o pela pia abaixo. Depois ele chegava, ia coser à máquina:
- “A máquina está desenfiada?”
- Ah, isso fui eu que estive a limpar a máquina e desenfiei-a.
E aprendi a coser à máquina. Tenho o prazer de dizer que ensinei a minha mulher a coser à máquina. O meu sogro que tinha uma máquina mas com o medo dela partir as agulhas nem ensinou a filha. Eu depois de casado é que ensinei a minha mulher a coser à máquina.