Tenho até uma história muito engraçada. Eu nessa altura que trabalhava como colchoeiro, trazia um macaco tão roto, tão roto, que tinha de trazer umas calças por cima do macaco para me tapar. E eu ia para um bailarico, mais outro rapaz. A gente nessa altura tinha vaidade, com um lencinho no bolso, de três bicos. Vimos duas moças e uma vira-se para o meu colega:
- “Você é empregado de escritório, não é?”
E ele:
- “Ah sou!”
Ele trabalhava numa mercearia ao pé da penitenciária. E a outra vira-se para mim:
- “Então o senhor também é empregado?”
- Também. Também sou empregado de escritório.
Combinámos no outro dia ir para o baile. E qual é o meu espanto, nessa altura, levava uma posta, uma couve e meio quilo de batatas embrulhadas no jornal, para fazer o almoço. Quando entro lá na rua onde eu morava, que era uma travessa, dou-me de caras com a moça. Ai Jesus! Se houvesse ali um buraco eu metia-me pelo chão abaixo. Aquilo é que era um empregado de escritório. Eu metia-me pelo chão abaixo, nem com os braços ficava. A moça tinha lá respondido a um anúncio para uma fábrica que havia na rua onde eu morava e estava lá a trabalhar.