Mais tarde quando andei nas camionetas, a fazer o serviço público nas carreiras de Santa Comba Dão, também tinha uma casa de colchões em Côja. Enquanto eu andava a fazer a carreira, ia de Santa Comba e tornava a vir. Estava lá a minha mulher. Depois eu vinha, fazia os colchões. Nessa altura, a carreira, no Inverno era só três dias por semana: terças-feiras, quintas-feiras e sábados. Durante o Verão é que era todos os dias. Mas quando eram quatro e meia a gente já estava despachado. Às quatro e meia de Verão ainda se faz meio dia ou mais. Eu então estacionava a camioneta, comprei uma mota, ia de mota até lá baixo fazer os colchões.
Aprendi também a fazer os colchões de rede, de madeira. Fazia tudo. Fazia o colchão de arame, fazia o folheiro para pôr por cima e se fosse preciso até fazia misto. Era de um lado lã e do outro lado palha. Cheguei a fazer isso. Cheguei até a fazer coberturas para divãs com a folheira em volta. Com os dois rolos e dois almofadões. Era o que antigamente havia. Não havia sofás como há agora. As pessoas que já tinham assim umas certas posses durante o dia punham os divãs a fazer de sofás. À noite tiravam as almofadas e ficava uma cama para uma pessoa dormir ali. De manhã outra vez. É o caso dos sofás de agora de abrir e fechar. Eu cheguei a fazer esses colchões. Há um colchão desses na Fundação Fausto Dias, nos Pardieiros. Eu fiz os colchões para as camas de ferro que lá têm de arame e os colchões de palha por cima. Na altura, as pessoas na província, coitadas, tinham aqueles colchões de mexer, de centeio. Chamavam palha de mexer e folheilhos. Eu comecei a adoptar. A fazer os colchões de arame para as camas de ferro. No meu estabelecimento em Côja vendia malas, mesas de cozinha, bancos, tapetes. Praticamente até camas de ferro comecei a vender lá também. Tinha uma clientela já jeitosa. Mais tarde, apareceu-me uma vaga para metade de um táxi e agarrei. Fui lá baixo para Lisboa.