A casa do meu pai era uma casa grande, só que tinha poucas divisões. Tinha cada um o seu quarto: as raparigas um, onde eu dormia com as minhas irmãs; os rapazes outro; e os meus pais tinham o quarto deles. Havia ainda um quarto, que era para os meus avós quando viessem. Não dormia lá ninguém. O resto era amplo! Era uma sala comprida, larga, um salão grande!
Não tínhamos casa de banho. Ao pé da nossa casa, o meu pai fez uma retrete, uma casinha pequena. Punham estrume e mato para tapar e estar limpinho e, depois, puseram uma tábua a fazer pontão. Ali sentavam e faziam. De vez em quando, tiravam aquele estrume sujo para a fazenda e punha-se outro. Era a nossa casa de banho, porque a gente não tinha dinheiro para fazer outra e nem podíamos! Nessa altura, não havia cá casa de banho nenhuma, não havia nada. Depois, claro, lavavam-se em casa num alguidar. Mas não havia água em casa, tínhamos de ir à fonte. Chamavam-lhe a barroca e ainda lá está.
Os animais estavam na fazenda, cada coisa em seu curral: as cabras num, as ovelhas noutro, os porcos noutro e as galinhas noutro, tudo perto uma coisa da outra. Mas, junto à casa, também tínhamos duas lojas para os pôr quando eles vinham para cima, porque nem sempre estavam na fazenda.
O meu pai deu uma casa a cada filho. Uma casinha, vá. Não era luxo, era uma casinha. A mim, calhou-me a onde eles moravam. Estava muito estragada, já se vê. Ao fim, como eu precisava de dinheiro e o meu marido tinha uma casa, optei por ficar nessa casa e vendi a outra ao meu irmão, que a queria:
- “Ih, essa casa tem de ser para mim!”
A do meu marido precisava de obras, a minha também e eu disse:
- Olha, nós não podemos arranjar as duas...
Então, comprámos a casa onde hoje vivemos. Estava toda podre a cair. Tivemos que a deitar abaixo para fazer nova.
Quando o meu marido se reformou, a casa ainda estava por acabar e ainda gastáramos dinheiro para fazer o resto. O chão da garagem era só pedregulhos e a loja, lá no fundo, também não estava acabada. Depois disso, já se pintou por fora para se vedar a chuva, porque meteu água e apodreceu o chão. Agora já se anda a gastar dinheiro outra vez. Fôramos acabando a casa aos poucos. Não se podia fazer mais, porque não tivéramos ajudas de ninguém. Era só do nosso braço.
A casita onde eu morava agora é da minha sobrinha. Ela mandou arranjar e aquilo está lá bom.