Eu e os meus irmãos não podíamos brincar. Não havia tempo também para isso, porque cada um tinha a sua tarefa: um fazia uma coisa, outro fazia outra. O pai dizia à noite:
- “Amanhã vais fazer aqui!”
- “Amanhã vais fazer ali!”
- “Tu vais para aqui!”
- “Tu vai para ali!”
- “Tu vai para além!” - cada um tinha o seu.
Então, a gente tinha que guardar o gado e ir à água ao tanque da barroca, porque a água era acartada com uma cântara de folha ou um cântaro de barro. Tinha uns chafarizes com água corrente e boa e ia-se lá buscar a água para casa e lavar a roupa. Eu tinha que ficar em casa a guardar as cabras ou as ovelhas e eles iam para a escola. Depois da escola, vinham ajudar um bocado também: às vezes, iam à água, outras vezes iam à lenha, noutras iam ao mato. E era assim a nossa vida: era o campo!
Às vezes guerreávamos uns com os outros, porque um fazia o trabalho melhor que o outro mas, pronto, fôramos sempre amigos. Nunca fôramos inimigos uns dos outros!