As ovelhas e as cabras eram separadas no seu curral mas, na rua, era tudo à mistura, andavam todas juntas. Quando vinham para a loja, elas já sabiam: as cabras iam logo para a casa delas e as ovelhas iam para a sua. Não era preciso ralhar. Elas já sabiam. Estavam habituadas. Mas, quando lá íamos com o gado, tínhamos que andar sempre alerta a ver para onde elas iam e dizer.
- Chega para cá! Bota para cá!
A gente andava a guardar, porque elas podiam fugir para as “quelhadas”, onde semeavam o milho, as batatas e os feijões. Eu não podia adormecer, que elas iam comer o milho ou as couves! Só que o meu irmão, o Alberto, tinha muito sono. Quando adormecia, elas fugiam para o milho, para as batatas ou para as videiras. E depois o meu pai batia-lhe. Ele adormecia, deixava comer o que não era nosso e depois tinha que se pagar. Se fosse nosso, pronto, acabou. Mas não era nosso e, por isso, o meu pai ralhava com ele:
- “Não podes fazer assim!”
Como ele adormecia e eu não - estava sempre mais alerta - queriam-me a mim para guardar o gado. E era por isso que eu tinha que andar.