Eram muitas as ovelhas e as cabras. Às vezes, tinham que ir pastar para a Relvinha, num bocado que a gente tinha. Lá havia muito que comer e elas queriam era comer. Mas os lobos também andavam aí. Uma vez, veio lá um lobo por detrás das penedas para apanhar a ovelha. Mas dava-lhes o cheiro do lobo - que o gado dá nota do bicho -, começavam a saltar e ele a bater a sapateta a fugir! A gente, quando as via assim, começava logo a ver onde ele estava. Mas também tínhamos que fugir, porque os lobos tanto apanhavam o gado como a gente. Era mais o gado mas, se não houvesse gado, também se atiravam à gente. Havia aí pessoas que ainda foram muito amedrontadas por eles. Agora não sei se ainda há, se não, mas houve aí uma altura que havia muitos lobos. As pessoas iam para a serra fazer o negócio - vender espécies, colheres -, iam nos machos e os lobos atacavam os machos! De noite os lobos atacavam, porque andam sempre por cima. Nunca vão pelo lado de baixo na serra. Depois, de tempos a tempos, lá aparecia o cavalo mordido e morto. Aqui, na nossa terra, até nem nunca aconteceu. Eu nunca vi, mas ouvia contar os meus velhotes, os meus avós:
- “Ah! Desapareceu um homem!”
Diziam que estava o cavalo deitado, morto. Depois vinham a saber quem era mas, pronto, o lobo comeu! Comiam tudo! Só havia os pés dentro dos sapatos. Só reconheciam a pessoa pelos sapatos. O pé, nunca o comiam porque estava dentro da bota. Como nessa altura usavam uns tamancos de pau, era rijo, os lobos não o comiam. Também, depois de comerem tudo, já não tinham fome para ir à procura dos pés. Então, começaram a caçá-los e acabaram-se os lobos.