A gente, às vezes, quando andava a guardar as cabras e as ovelhas, fazia uma curralito de pedras. Era uma paródia a brincar com as pedras. Mas aquilo, na hora, escangalhava-se logo. Depois, sentava-me e punha-me "amorangada" a olhar para o gado. Não me podia esquecer delas, porque elas fugiam. Então como é que fazia? No mato, havia os pinheiros e nos pinheiros, havia os púcaros da resina. Umas tigelinhas de barro. Quando a gente ia para lá, a minha mãe dava sempre um pedaço de broa. Levávamo-lo num saquito, no bolso, para comer atrás do gado. Bem, a gente ia aos pinheiros! Quando os púcaros ainda iam novos e não estavam ainda sujos - porque eles depois enchiam-se de resina e já não se podia mexer - a gente roubava um e escondia-o. Quando íamos para lá com o gado, chamávamos por uma cabra, ela vinha ter ao pé de nós, ordenhávamo-la para o púcaro, púnhamos-lhe a broa e comíamos! Comíamos o leitinho da cabrinha com a broa! E era bom! Estava quentinho! Depois, a minha mãe dizia:
- “Ah! Mas então a cabra hoje não deu leite!”
Dizíamos nós:
- Ai deu, deu! A gente é que o comeu!
Aquela que a gente ordenhava dava pouco, tirando-lhe o leite. A minha mãe queria o leitinho para fazer o queijito, mas os meus pais nunca ralhavam de a gente comer. A nossa mãe sempre foi farta, nunca nos deixou ter fome. Foram sempre muito amigos dos filhos e sabiam que a gente fazia isso. Não havia problema. A gente comia quando era preciso e também não estragava. Não estragava mesmo.