Primeiro, nós vivíamos cá no povo. Os meus pais tinham aqui uma casa. Era feita de pedra. Até amassavam barro para fazerem aquelas paredes. Não era uma casa grande nem bonita. Era uma casita pequena. Bem, mas a gente cabia lá. Naquela altura, aquelas casitas não eram boas. Não eram prédios. Eram pobres, no tempo. Não havia dinheiro, não tinham dinheiro. Agora é que são casas boas.
Depois, o meu pai comprou uns moinhos ali em baixo. Quando eu era criança, a minha casa era adonde estivesse o meu pai. Então, ele era moleiro. Aonde ele estivesse, estávamos a gente. Dormia lá donde tinha as moendas. Tinha lá o andar de cima. Por baixo, era donde andavam a andar as pedras a moer. E por cima era o andar, a casa, onde tinham uns quartos. Eu tinha um quarto meu, porque era só eu de rapariga. Só eu dormia sozinha. Não tinha medo. Havia lá mais outro quarto. Os meus irmãos já dormiam aos dois. Muitas vezes, o meu pai até ficava lá baixo, nos moinhos. De noite, às vezes, acabavam e não tinham grão. Andava à roça e não era bom. Às vezes, lá ficava.