Fui para a Lisboa quando tinha a minha filha 6 anos. Mas, a vida lá estava muito má e não se ganhava que chegasse. Como no Monte Frio havia um senhor que trabalhava com umas camionetas no carvão, o meu marido veio para cá. E eu vim também. Depois tornou a ir e foi assim a nossa vida.
Primeiro estávamos a morar numa parte de casa. Depois fui para uma casita alugada. Nunca se comprou casa, porque o dinheiro nunca dava e a gente, com os dois filhos, tinha muita despesa. Ainda comprámos metade do carro onde o meu marido trabalhava, porque o senhor já era velhote. Ficámos empenhados. Conforme se ia ganhando, assim se ia pagando. E, bem se vê, nunca podíamos ter dinheiro para mais nada. Eu, da minha parte, não trouxe dívidas, mas ele tinha-as e eu tinha que ajudar a elas. A vida era dura.
Houve uma época em que estive seis anos sem vir a Monte Frio. Tínhamos feito a casa com dinheiro emprestado, mas não havia dinheiro para a vida e era preciso poupar muito. Tinha saudades, mas não podia vir... Quando a gente se desempenhou e acabou de pagar a casa, já vinha. Mas ainda tive aquele tempo todo sem vir à aldeia. Viéramos quando o meu marido se reformou com o limite de idade.