Eu gostava de estar em Lisboa, mas o trabalho era duro, porque a gente tinha que fazer muita coisa. O meu primeiro trabalho foi numa pensão. Como eu morava lá numa parte de casa, tinha de trabalhar das oito horas da manhã às oito da noite. Tinha que fazer a minha vida toda de noite.
Ao fim, fui trabalhar para as limpezas na Caixa. Foi uma amiga minha que me arranjou. Fiz limpezas na Caixa Geral de Depósitos, no Grémio Literário e no Diário de Notícias. O mais ruim era o Diário de Notícias, porque aquilo eram umas oficinas. Antes de lavar, tínhamos de varrer e apanhar uns vidros e uns ferritos. As mãos feriam-se e doíam. Quando ia para o escritório, era raspar, encerar, puxar lustro e limpar o pó.
Trabalhava por turnos. Quando fazia o turno da manhã, os meus filhos iam comigo para o trabalho e de lá mandava-os para a escola. Depois, ia lá buscá-los. Mas quando era o turno da noite, eu só vinha lá para as dez horas e eles ficavam os dois em casa. Ainda cheguei a ter uma senhora que, às vezes, me olhava por eles. Eles começaram a crescer e a tomar conta deles próprios, também.
Depois, quando me deu a trombose, reformei-me por invalidez. Ia fazer quatro anos de Caixa, mas naquela altura já valia para ter o mínimo. Era poucochinho mas, pronto, era minha!