O meu filho nasceu na Maternidade dos Tabacos.
No dia do nascimento dele, eu fui comer um rico almoço a Colares. Telefonei para lá, tinha corrido bem a coisa, e tal. E assim foi. Ele foi quase criado na Maternidade. A minha mulher ia trabalhar e ele lá ficava. Era assim. Depois, fomos indo, a vida foi andando. Mais tarde, tive uma infelicidade com a minha mulher. Ela foi operada a um peito e eu fiquei com o rapaz sozinho, enquanto ela estava no hospital. Senti um bocadito a coisa. Mas tinha lá uma cunhada e lá me safei. Passei esses bocadinhos todos.
Ele, mais tarde, esteve na Marinha dois anos. Em dois anos, vi-o fardado duas vezes! A Marinha dele era ir para o Alfeite de manhã e depois vir dormir a casa, à noite. O serviço dele era aquele.
Era mecânico de automóveis. Tratava lá dos carros. Andava dentro do Alfeite de um lado para o outro. Fui lá algumas vezes ter com com ele. O vinho deles estava dentro duns depósitos de aço inoxidável. Era só chegar ali e abrir. E havia sempre petisco. Aquilo não era Marinha, não era nada.
A minha família sempre gostou de mim e eu sempre gostei da minha família. Quando eu saio com o meu filho para qualquer lado, não se sabe qual é o pai nem qual é o filho.
Por vezes, vê-se aí que quando os pais começam a ter uma certa idade, os filhos desviam-se deles. Vai um para o lado e outro para o outro. Eu não. Se ele vier aqui e quiser ir a um lado que eu não queira ir, ele não fica zangado. É um gajo com uma vida alegre.
Já tenho duas netas. E parece-me que está aí um bisneto a trabalhar.