“Quando fui à ponta do travão, não havia lá nada!”

A primeira garagem onde estive deixou de ser garagem e passou a ser um stand de camionetas, camiões e tal. Carros grandes. E tinha uma oficina. À noite, quem arrumava a casa era eu. Tínhamos lá umas camionetas estacionadas na rua e o engenheiro disse-me:

- “Ó, Luciano, tem cuidado com esse carro, que ele não tem travões.”

Era um Denes de Rio Maior. Naquela altura, os travões eram só ar. Como o carro esteve ali parado, o ar foi-se embora. Nem tinha travão de mão para accionar. Eu entro para o carro, meto o pé ao pedal e desengato. Geralmente, quando eles estão a fazer força na velocidade, está a alavanca presa. Mas não, deixei-o cair para a rua para pegar. Não tinha bateria, mas o carro a gasóleo pega sem bateria. Quando fui à ponta do travão, não havia lá nada! Entro por aquela rua abaixo, a gritar. Gritei quando pude! Passei desviado de um automóvel por um bocadinho. Matava aqueles gajos todos. No fundo da rua havia um tapume de madeira que era onde a Empresa Geral de Transportes recolhia algumas camionetes. Eu disse:

- É aqui que tens de perder a força.

Encostei para o lado do tapume de madeira e enfiou-se num barrote no farol da frente. Mas a madeira em vez de cair para fora caiu para dentro! Passou uma tábua encostada a mim e levou-me metade do macaco. Não me tocou na pele. Cortou-me foi três dedos com vidro. Lá encostei a uma parede, ficou encostada e foram buscá-la, depois. E eu fui para o hospital.

O meu patrão não disse nada. Ele sabia como o carro estava e não me disse nada. Eu é que não sabia que o carro não tinha travões. Para não matar ninguém, fiz aquilo. Nem sequer tinha carta. No hospital, estive debaixo de prisão uns dias até resolver aquilo. Depois saí de lá. Saí e o seguro ainda me ficou a dar 800 mil réis por ano! Era uma fartura...