Na Empresa Geral de Transportes, comecei por distribuir por Lisboa as encomendas que vinham da província. A empresa tinha as camionetas e nós andávamos dentro delas a servir. Havia o chofer, o ajudante e um ou dois carregadores. Eu levantava-me de manhã, carregávamos o carro e íamos para a cidade, servir. Às vezes, carregava-se mais que uma vez. Parava-se aí num lado qualquer:
- “Vai àquela rua, àquela morada.”
Para isso precisava de saber ler. E foi isso que me obrigou a comprar o jornal todos os dias, para abrir os olhos. Eu comprava o jornal e via as letras. Esta cabe aqui, aquela cabe ali... Juntava-as. Eu conhecia as letras, mas para as juntar é que era pior. Comecei a juntar as letras e “desemburrei-me” assim.
Depois, saí e fui para as estações de serviço. Quando trabalhava, não era preciso o patrão mandar-me. Nunca foi preciso os patrões mandarem-me. Eu fazia o serviço e passava o serviço. Os outros empregados que trabalhavam ao pé de mim e as pessoas do escritório não acreditavam que eu não tinha educação nenhuma. E assim me safei.