O Dia da Cobra é o Primeiro de Maio. Mas isso é verdadeiro! Os meus irmãos foram ao mato esse dia e depois apareceu uma cobra na cama. A minha mãe nunca mais mandou os filhos dela ao mato no Primeiro de Maio. Desde essa altura para cá, no Primeiro de Maio nunca trouxéramos nada para casa. Nada, nada, nada!
Mas um dia, nesse dia, vinha uma mulher - chamavam-na tia Cândida - ali à Ponte com um molhito de lenha. Umas pessoas a passar por ela disseram assim:
- “Ó tia Cândida, então você vai aí com o molho da lenha? Olhe que você hoje leva as cobras para casa!”
Diz ela assim:
- “Olha, as cobras têm-nas aquelas que não querem ir a ela!”
Ela a dizer aquilo, uma cobra pendurada por o molho abaixo.
Nos Pardieiros, havia lá uma, que era Alda. Ela foi e trouxe as couves para fazer o caldo. Naquele tempo, não falavam em sopa. Era caldo de couves. Chegou lá, pô-las dentro dum cesto na cozinha. Ainda lhe disseram no caminho:
- “Ó Alda, então levas hoje as couves para casa? Olha que hoje vão as cobras para casa!”
Diz ela assim:
- “Ah! Vão as cobras para casa. Vocês é que são umas boas cobras... Vão agora as cobras para casa.”
Quando foi para tirar as couves, para fazer o caldo, salta de lá uma cobra para fora! Eles não a viram mais. Só a viram saltar, mas não a viram mais. O trabalho que eles tiveram. Tiveram que tirar o colchão da cama e desmanchá-lo todo para ver se ela estava metida para dentro do colchão. Tiveram um trabalhão. Desmancharam o colchão todo. Não havia lá nada. Não tinham lá nada. Mas a cobra saltou donde estava nas couves e não viram mais o sacana da cobra.
Havia aí um homem que mandou as filhas ao mato. E as filhas disseram assim:
- “Então, a gente hoje é que vai ao mato? Hoje vêm as cobras para casa...”
Mas o pai diz assim:
- “Não quero lá saber nem de cobras nem de meias cobras. Quero cá o mato!”
Cada uma foi buscar seu molho de mato. Quem estirou o mato ao gado foi ele. E, em cada molho que ele estirou, encontrou uma cobra.