Eu tinha muito medo das coisas. Quando começava a anoitecer, eu queria era ir para casa! Um dia a minha mãe mandou-me ir à loja mas, não havia luz, era tudo escuro. A gente saía da nossa casa só com candeeiros a azeite e a petróleo.
- “Vá buscar azeite!”
- Não vou! E não vou!
E a minha mãe dá-me com uma colher de pau na cabeça, partiu-a logo a meio. Ainda às vezes digo assim:
- Ó mãe, e quando você me bateu por eu não querer ir para buscar o azeite? E fui... Bateu-me e depois tive que lá ir! Com um candeeirito na mão. Era tudo escuro. Só se via estrelas, e a lua quando havia.
A minha mãe vendia sardinhas, e outros peixes. E ela, coitadinha, tirava só meia dúzia de sardinhas para nós. E também vendia pão. Depois também comecei eu a vender. Ela mandava-me às terras...
- “Olha vais ao Casal Novo, à Mata. Vai lá que há lá pessoas que querem pão.”
E eu ia. Eu bem queria brincar, mas a minha mãe é que mandava fazer as coisas. Depois eu começava a chorar. Desses tempos de brincadeiras lembra-me que me entretinha com qualquer coisa. Ia deitar as cabras. Cavava um bocadinho de terra assim no mato ou onde elas estivessem ou na fazenda. Levava feijões e milho e semeava. E depois ficava toda contente quando eu ia lá ver que eles já tinham nascido. A gente também mandava pedras para a ribeira. Eram estas brincadeiras assim.