A minha tia arranjou umas casas para eu ir servir. Uma vez fui servir para uma senhora, lá do Alentejo, era na Rua das Beatas. Eu nunca tinha visto tanto magala, ia a subir a rua e vi os magalas a marcar o passo, de um quartel para o outro. Ainda usavam aquela farda cinzenta, com aqueles coisos de bico. Então, eu vou com ela para a Praça da Figueira, ela compra uma galinha e põe a bicha dentro de uma alcofa. A galinha, não sei como é que ela desatou as pernas, foge-me. Para onde é que ela havia de ir? Havia uns urinóis, com umas escadas para as senhoras e para os homens. A galinha enfia-se-me por ali abaixo e eu vou atrás dela. Diz-me assim um homem:
- “Aqui é dos homens! Ali é que é das senhoras!”
Eu disse:
- Eu não... Venho aqui buscar uma galinha!
Lá andáramos à procura e encontrei a galinha. Chego cá em cima e perco a patroa. E como é que eu ia para casa? Lá me foram ensinando.
- “Vai por aqui, vai por acolá.”
Depois quando eu chegasse à Graça já conhecia. Quando eu entrei em casa eles já estavam a almoçar. Apanhei uns nervos tão grandes! E ela assim:
- “Onde é que tu te meteste?”
Eu contei. Começaram-se todos a rir!