A casa onde moro hoje era dos pais da minha esposa. Quando partiram, calhou-lhe a casa, mas tivéramos que pagar uma parte aos irmãos. Já era velho. Era um quartozinho, uma sala e uma loja velha. Tínhamos um balcão, mas fui obrigado a deitar aquilo abaixo para fazer a entrada. Um dia venho à aldeia, justo com uma pessoa para arranjar a casa, e disse:
- Ó Maria, eu vou desistir porque fulano pediu-me “x”...
- “Tu, olha, se não arranjarmos a casa, eu nunca mais lá vou à terra!” - disse ela:
Então, eu telefono para o tipo e digo assim:
-Eh pá, manda isso para a frente!
A coisa que menos me custou na vida foi eu ter a minha casinha. Na altura foi justa por 252 contos, mas eu gastei aqui muito mais. Chegou a estar aqui dentro 22 pessoas. No ano passado, tinha um problema no esgoto. Era para ir a Lisboa logo a seguir a Agosto e não fui (só fui em Novembro), porque o Castanheira nunca mais aparecia para me fazer a obra. Gastei 200 contos em dinheiro, quase 900 e tal euros! Mas está resolvido o problema. Ainda tenho mais umas coisas para fazer, mas é surpresa para os meus filhos e para os meus netinhos. Para o ano, se Deus quiser em Julho, quando eles cá chegarem, vou alargar a minha cozinha! A minha cozinha é um bocado escura e então vou ali abrir aquilo para ficar com mais claridade para a marquise. É para mim e vai para os meus filhos. É para eles não dizerem que um dia, quando faltar, lhes deixei expulsar a casa.