A minha esposa tinha um enxoval com muita coisa, rendas e roupas. Eu era pobre e a única coisa que trouxe da minha terra foi gado. Trouxe seis cabeças de gado.
No dia do casamento ela levava um vestido branco e um véu. Eu levava um chapéuzinho na cabeça que se usava. Houve muitos convidados, talvez mais de 50 e tal pessoas. As minhas sobrinhas é que levavam o anel.
Depois, na altura, usava-se um lencito na mão para indicar onde era o almoço. Lá fui de braço dado para casa da madrinha da minha falecida. Comeu-se o que usávamos cá: chanfana, o arroz doce, bolos, pão-de-ló, tapioca e tigelada. Para se fazer a chanfana matava-se uma cabra ou uma ovelha, aquilo era bem temperadinho e depois ia a cozer numas caçoilas ou nuns tachos de barro. Depois andámos ali no baile. Houve até um tipo que era o Peres - já morreu, mas era o dono de uma quinta na Fonte Raíz e era ainda família dos meus - que fez um discurso assim ali à maneira dele. Disse assim:
- “Deus queira que eu me engane! Deus queira que corra bem, porque essas meninas agora vendo um burro com um chapéu na cabeça...”
E eu cá para mim:
- Vai chamar burro a outro.
Agora até me recordo que, quando foi para pôr os pregões do casamento na Benfeita, a minha falecida não queria que eu pusesse a idade dela, porque já tinha 31 anos.
Depois de casado ainda estive no Monte Frio um ano. Depois fui para Lisboa. Estive lá um ano sem a minha falecida. Depois lá é que alcançou os filhos, mas esteve cinco anos sem alcançar, porque tinha um desarranjo. Uma vez, ela foi andar com os pés na terra quente e depois foi deitar umas coisas na água fria. Estava a ver que ia morrendo.