A minha infância foi o seguinte: Os meus pais, coitados, eram pobres e os ganhos eram poucos. Então, eu tinha 7 anos e já guardava um rebanho de gado e nem eram só do meu pai. Eram muitas cabras e algumas eram mais altas que eu. Andava para aí com pífaros e a tocar flauta com elas para me distrair. Não sei quem é que me deu a primeira flauta. Eu tinha um primo que sabia tocar muito bem pífaro e flauta e eu aprendi com ele. Sei uma moda ou duas. Já vai da pessoa e do dedo. Eu depois guardava o gado e, naquela altura, nós tínhamos um bicho feroz que eram os lobos. De vez em quando, levavam um cabritinho.
Depois os nossos velhotes, o meu pai e os meus tios, andaram de um lado e para o outro para arranjarem veneno para deitar aos lobos e eles morrerem. Não conseguiram. Então, aguçaram uma moita bem aguçadinha, fizeram um buraco num presunto, mas que eles não notassem, e puseram para lá o veneno. Enterraram o presunto numa cova de carvão, daquelas velhas que já tinham mato. Ao outro dia vão lá e a primeira coisa que viram foi uma ratazana morta. Foram a andar mais um pouco e lá encontraram a loba morta. Mas só daí a muito tempo é que descobriram o lobo lá no alto, metido numas penedas. Era só o esqueleto.