Vou contar a história do namoro com a minha mulher. Eu andava na resina mais o meu irmão António e a minha falecida tinha lá um gado, uma cabritas num curral. E ela ia para lá para roçar o mato. Mas, nessa altura, ela já era assim um cristal. Eu estava lá a conversar e tal para lhe pedir em namoro e ela:
- “Ah, estou com pressa, porque tenho de roçar um molho!”
Digo assim para o meu irmão:
- Ó António, vai ali roçar um mato aqui à dona Maria.
Naquele tempo era dona Maria. Ele, então, foi-lhe roçar o mato e eu fiquei a falar-lhe. Ela disse que não se importava de aceitar o namoro:
-“Está bem, mas eu tenho que escrever para os meus irmãos.”
Ela lá escreveu ao Guilherme e ao Fernando. Disse que eu era sobrinho do Zé Augusto, que era um antigo político cá da terra (e chegou a trabalhar muitos anos no hospital São José). Os irmãos aceitaram. Como ela fazia companhia em casa de uma tia, que era uma santa mulher que se chamava Glória, que coitada, era doente de diabetes, então fui também pedir à tia. Fiz o convite e ela disse-me assim:
- “Ela já tem pretendentes, mas é só para a enganar. E você ainda é muito novo...”
A minha esposa era mais velha que eu nove anos. E eu respondi-lhe:
- Descanse que comigo não há problemas!
Às vezes já de noite, estávamos à porta a conversar, e dizia a tia:
- “Ó Maria, ó Maria!”
Estava sempre a chamar, desconfiada que a gente fizesse algum mal.
De manhã levantava-me cedo, ia tomar o café a casa da tia da minha esposa e ia para os Pardieiros para a resina. O primeiro beijo que lhe dei foi ali em casa de manhã, quando saí para ir para a resina. E disse-lhe depois:
- Agora vê lá se dizes alguma coisa...
Passado dois meses casámos. Às vezes, na cama, dá-me a espertina e ponho-me a pensar: namorámos dois meses e chegamos a encontrar-nos casados já passava mais de 50 anos. E agora eles casam-se hoje, amanhã descasam-se.