Quando era novo tomei conta do gado e, já nesse momento, comecei a ir para o carvão com o meu pai. Uma pessoa arrancava as cepas, que é coisa das moiteiras. Diz a gente que é uma torga. Baldeávamos, sacudíamos e, quando estivesse um bom monte daquilo, abria-se uma cova com um enxadão de ferro que pesava aí mais de 5 quilos. Íamos arrancando até vermos que dava para encher a cova do carvão. Depois íamos pondo fogo à cova. Às vezes tirava-se quatro ou cinco sacas, outras vezes, duas ou três, conforme a qualidade. Quantas vezes, na altura do Inverno, a gente abria a cova do carvão para lhe deitar o lume e, a acabar de fazer a cova, já ela a encher-se de água. Os Invernos eram mais rigorosos que agora e aquilo primeiro que ardesse... No Verão íamos e vínhamos de noite. Fazíamos o carvão lá para trás do ribeiro e depois não íamos para a cama. Ficávamos ali a descansar um pouco nuns sobrados para depois tirar o carvão. Tapávamos aquilo bem tapadinho e ao outro dia chegávamos lá tirávamos a terra. Depois, com uma enxada, é que tirávamos o carvão para ensacar. Às vezes, ainda tínhamos que pôr água para apagarmos o fogo. Era para não ir aceso e o lume não se largar às sacas. Eu mais o meu irmão, em dez sacas de carvão, recebemos 100 escudos. Era pouco.
Quando vim para o Monte Frio, ia para os Pardieiros para a resina. Andava dia e noite a trabalhar para encher um barril de resina. Eram dez, 11 sacas de resina para encher um barril e, naquela altura, era a 15 escudos o barril. Vinha lá de baixo para o Monte Frio com uma lata que pesava 25 quilos ao ombro. Foi uma vida muito de escravo que a gente passou aí. Por isso é que, quando estou na cama, não consigo deitar para um lado. Mas, naquela altura, era novo e não custava. Uma pessoa andava, parecia que nada nos custava. Agora, vou de casa para o Outeiro e chego lá já cansado.