Quando foi a Guerra Mundial, era o Hitler, que era da Alemanha. Queria ser Deus no Céu e ele na Terra. Ele já ia apanhar as nações. Se ele chega a apanhar a Rússia, o mundo era todo dele. Ele começou a apanhar as que estavam lá mais perto da terra dele e depois chegou à Rússia. Mas a Rússia tem a Sibéria muitos graus abaixo de zero. E os russos foram combater na Sibéria. São ali nascidos e criados, aguentam-se naquela friúra. Se forem lá ou que andem por lá perto ou assim, aguentam-se. Mas os soldados que foram, claro, iam doutros países mais quentes e tudo isso. Começaram todos a tombar para o lado, porque não se aguentavam naquele clima. Estavam a morrer. E o Hitler, quando viu que os soldados dele estavam todos a tombar para o lado, a morrer, teve que acabar com a guerra, teve que se ir embora. Nunca ninguém deu notícias do Hitler. Até se calhar o mataram. Se calhar. Mas isso não se sabe a certeza. Mas nunca mais ninguém falou no Hitler.
E adonde se soube primeiro que a guerra tinha acabado foi aqui na Benfeita. Aqui é que deram a notícia e que mandaram dizer para Lisboa que tinha acabado a guerra. Lisboa não sabia, nem Coimbra, nem Porto, nem nada. Foi a Benfeita. Para a Benfeita é que veio a notícia. Quando acabou a guerra, uns doutores que havia ao tanque, que tinham muito conhecimento, fizeram um relógio monumental. Todos os anos, no dia 7 de Maio, ali às três horas da tarde, aquele relógio começa a dar as badaladas sem ninguém lhe mexer. A corda dele era para 1600 badaladas, mas havia de ter mais corda. Mas não puderam fazer a Torre mais alta, porque está lá acima já naquele alto e aquelas casas por baixo gritavam. Não queriam a Torre muito alta, porque tinham medo que algum dia ela caísse e arrasava aquilo tudo “pia baixo”. E é verdade. Para aqueles que estavam por baixo, é sempre perigoso. Então, não altearam mais a torre. Se ficasse mais alta, tinha mais corda. Estava aí que tempos a dar horas.
Um dia, uns de Arganil até disseram assim:
- “Vocês têm aqui uma coisa como não há cá em todo o Portugal nem no mundo inteiro!”
Que é o tal relógio monumental! Foi aquele que anunciou o fim da Guerra Mundial.
Eu, uma vez, ia a descer as escadas “pia baixo” a chegar aí em baixo à rua e aparece-me lá uma senhora e um cavalheiro. Era homem e mulher com certeza. Diz ela assim:
- “Ó minha senhora, então, onde é a Torre de Salazar?”
Digo assim:
- Olhe, é aquela lá cima.
Diz ela assim, tal e qual, isto foi tal e qual:
- “Oh! E vem a gente de tão longe para ver assim uma coisa destas” - julgava que era uma coisa muito importante.
Digo assim:
- Olhe! Não é uma coisa importante, mas é uma coisa de valor! Foi aqui nesta torre, neste relógio que cá está, que quando acabou a guerra, ele começou a dar as badaladas. E nós soubéramos aqui na Benfeita e daqui mandáramos dizer para Lisboa que tinha acabado a guerra.
E eles ficaram calados...
“Ó gente, boa e amiga!
Vem à Benfeita e verás!
Junto à capelinha antiga
Ouvir o sino da paz.
Aquela torre altaneira
Dedicada a Salazar.
O raminho de oliveira
Uma pombinha a voar.
O 7 de Maio nunca o esquecerás!
O sino escutai,
Ele vos lembrará
Que foi naquele dia
Que por toda a terra
Uma voz corria
Acabou a guerra!
Chorai de alegria!”