No meu tempo, havia missa todos os domingos no Monte Frio. Havia muita criança e não só daqui mas doutras terras mais vizinhas. A igreja tinha sempre muita criança, muita juventude e ao domingo com certeza levávamos uma roupita melhor.
Uma vez, houve um padre que fez uma regulamentação: quem mais vezes fosse à missa dava alguma coisa. E eu atingi o maior número de vezes de ir à missa. Deram os premiozitos na Benfeita e vinham uns brinquedos e duas ou três camisas. Eu aproveitei um automovelzito, daqueles de lata e houve um que não estava tão bem classificado como eu e que trouxe uma camisa. Ai meu Deus! Levei o carrito e a minha mãe ainda me bateu por causa disso. A gente olhava para a coisa que parece que luzia mais nos olhos, mas ora com certeza a minha mãe preferia a camisa, mas eu era criança.
O vestuário, nessa altura, era tudo dado por outras pessoas que traziam de Lisboa. Eram uns calçõezitos, umas calcitas, às vezes, com uns suspensórios ou umas alças. Para ir para a escola, quando chovia, era o casaco do meu pai pela cabeça, um casaco velho é que fazia de gabardine. Não me lembro quando tive o meu primeiro calçado mas com certeza já não foi muito pequenito. Os primeiros foram uns sapatitos de pano, depois lá vieram as botas de pneu e fui para Lisboa com elas, com 12 anos. A roupa passava de irmão para irmão. Havia também sempre aquelas pessoas que tinham mais quantidade, que tinham menos filhos e que guardavam e iam dando. Era assim que a gente se ia safando por aqui. Era muito difícil ir a uma feira ou ir comprar roupa porque não havia dinheiro.