Depois de acabar a escola fui para Lisboa trabalhar como marçano, num lugar de frutas, hortaliças e criação. Esse lugar era dos meus primos Alfredo da Cruz e Silvéria Naval. Era na Travessa Henriques Cardoso mas eles moravam na Avenida de Roma. Era só virar a esquina e entrar no prédio, no sexto esquerdo. Ainda hoje parece que a filha lá mora. Estive aí um ano, ano e pouco. Era assim que nos puxavam para Lisboa. Era família e lá vai. Depois de mim ainda lá esteve o outro irmão, o Emídio. Também foi para lá, como a gente dizia, “desemburrar”, porque a gente ia de cá burro. Mas aquilo lá não dava. Não tinha folgas, não tinha nada. Levantava-me muito cedo para ir para a Praça do Campo Grande. O meu primo ia à Praça à hortaliça e levava-me com ele. Depois era só juntar os cabazes da hortaliça para perto da camioneta. Era muito cedo e eu nunca dei assim muito bem ali. Não ganhava nada nessa altura. Era pela comida e vestida. Cama, mesa e roupa lavada, mais nada.
Como ali não dava, fui para casa de uns tios meus que moravam na Travessa de Olival da Graça e empregaram-me numa cromagem, ali também perto. Fui ganhar 7 escudos por dia com quase 14 anos. Eu não tinha conhecimentos para estas funções, fui aprendendo. Eu aprendia rápido. Em pouco tempo, passei de aprendiz a ajudante e já tomava conta dos banhos da cromagem, já sabia polir as peças na máquina.
Depois desse, zanguei-me, passei para uma outra e já fui ganhar um bocadinho mais. Foi no Largo do Carmo mas estive lá pouco tempo. O patrão oprimia muito as pessoas e um dia queria-me castigar, eu não aceitei e saí.
Estive um tempo a trabalhar numa sapataria mas não era como sapateiro. Era um estabelecimento e a única coisa que me deixavam fazer era limpar os sapatos.
Entretanto meti ali um pedido para trabalhar na Papelaria Fernandes e estive ali a trabalhar como ajudante de litógrafo. Também aí fui aprendendo. Tirava o papel, metia o papel e já via onde às vezes estava a ficar pontos. Era litografia de impressora, mas em ponto grande, era tipo de reclames e assim. Aí já desenvolvia e aprendia depressa, já tinha umas luzes disso. Às vezes aparecia uma sujidade qualquer no papel, já sabia parar a máquina, desligá-la e ir lá tirar. Sabia andar com o rolo de roda e ver onde é que estava a deficiência. Chamam-lhe tirar a deficiência da chapa. Sabia fazer, mas tinha o oficial ao lado. Isto foi um ano. Nos quatro dias de férias no fim do ano, vim à terra e não regressei mais para Lisboa. Só voltei de passagem e quando tirei a carta de condução. Para ganhar para a carta, andei a fazer biscates.
No Monte Frio, andava aos dias. Estive na estrada dos Pardieiros e depois de me casar andei de ajudante de camioneta. Fui também para as obras, por conta de um empreiteiro da Chamusca da Beira. Aí andei em Seia e pela Guarda a trabalhar como pedreiro. Foi quando assentei praça.