Os meus pais chamavam-se Albano Augusto Ribeiro e Deolinda da Piedade. Eram naturais do Monte Frio.
A minha mãe estava no Monte Frio. Era doméstica, tratava das fazendas e dos animais. O meu pai estava a trabalhar em Lisboa. Era servente dos Hospitais de São José. Vinha a Monte Frio um mês por ano. Era em Agosto, quando tinha férias. Depois ia embora, outra vez, até Agosto do outro ano. A minha mãe é que, às vezes, ia a Lisboa estar 15 dias no Inverno, porque há menos que fazer na agricultura. Isto foi enquanto a minha avó esteve viva, a mãe dela, que ficava a tomar conta de mim e dos animais.
Nesses tempos, não havia as reformas. Os filhos tinham que dar pensões para os pais se governarem. Davam, um tanto de batatas, um tanto de milho, de azeite e de feijão. O meu pai tinha que dar aos pais dele, a minha mãe tinha que dar também para os dela. O ordenado do meu pai era muito pequenino, não dava para a gente viver em Lisboa e viemos para o Monte Frio. A minha mãe foi uma escrava do trabalho toda a vida. Trabalhou muito, muito e eu com ela.
Depois, mais tarde, o meu pai reformou-se e veio para Monte Frio, mas está claro, já vinha com muita idade. Sempre tomava conta do estabelecimento e eu ia ajudar a minha mãe para fora. Eu era uma mulher que trabalhava que nem uma desgraçada. Trabalhava no estabelecimento, trabalhava no campo, lavava roupa, fazia comida para o meu marido, para os empregados quando vinham, às vezes, com fome. Era assim. Uma vida de trabalho muito dura, muito dura.