Eu trabalhava no campo. Tinha olivais, tinha cabras, tinha ovelhas, tinha galinhas, tinha porco... Tinha muitos animais e quintas com oliveiras. Tinha uma com um olival grande. É à beira da estrada. Só aquele olival dá azeite para uma família comer. Pois dá. É verdade. Já lá temos tido aos cento e tal litros, só naquilo. E tenho em mais lados, mas já vendi um. Vendêramos um, chamam lá ao Santo. Havia lá um olival e ainda tinha umas poucas de oliveiras. Vendêramos a um estrangeiro, porque a minha Alda também já não pode. Eu, por mim, já não posso fazer nada, porque já não posso trabalhar. Não tenho já força. Tenho ainda assim uma memoriazita, isso tenho.
Naquele tempo, não havia dinheiro. Podia aparecer um aquém e além. Alguns iam para um lado, uns iam para a África, outros iam para outros sítios para vários lados e esses arranjavam dinheiro. Aqui nas nossas terras, andavam, às vezes, ao dia fora. Isso era para comer! Para arranjarem dinheiro, não.