Eu fui para a escola e fiz a quarta classe em Monte Frio. Esses tempos de escola nunca me esquecem. Eram rapazes e raparigas, tudo misturado. Mas está claro, não éramos todos de Monte Frio. Eram de terras vizinhas porque nem todas as terras tinham escola. Chegámos a ser 20 e tal. Vinham miúdos da Relva Velha, das Casarias, do Valado e éramos todos amigos.
As professoras que vinham de fora iam ao fim-de-semana ou de 15 em 15 dias a casa. Havia uma professora que vivia mesmo no Monte Frio mas era muito ruim. Por acaso, a minha professora era do Barril de Alva, era a dona Ofélia. Casou em Côja e ainda é viva. Eu tive sorte que tive três anos a mesma professora mas, às vezes, iam-se embora e vinha outra.
O exame da quarta classe foi em Arganil. Tínhamos de lá estar três dias. No primeiro dia fazíamos a escrita, depois passava um dia sem termos nada e depois fazíamos a oral. Era mal feito aquilo. Tínhamos de estar numa pensão. Estivemos na Pensão Canário, a minha mãe, eu e os outros pais dos outros meninos com eles.
Ainda existe o recinto da escola que fica um bocado para cima do Outeiro. Era uma escola boa, feita em pedra mas quando deixou de haver alunos desmancharam-na, puseram uma pré-fabricada. Eram menos alunos e aquilo pré-fabricado foi num instante embora. Tornaram-na a desmanchar para levar coisas da escola e ficou ali só o recinto. Foi muito mau porque a de pedra nunca a deviam ter desmanchado.
Depois, fui para Lisboa para ir estudar. Fui para a escola Josefa de Óbidos, na Machado Castro, lá em cima no Rato. Fartava-me de andar a pé. Morava no Campo de Santana e ia a pé para a Josefa de Óbidos. Ainda era muito longe. Eu estava lá com uns padrinhos meus. Ainda fiz o primeiro ano mas no segundo, eu não queria estudar, não tinha vocação. Tinha eu 11 ou 12 anos quando vim para Monte Frio, para o pé da minha mãe.