A gente tem uma peneira, assim redonda, com uma rede muito fininha e põe ali a farinha e peneira. Na peneira ficam os farelos. Os farelos não se comem, são para os animais. A gente usava umas gamelas. Chamavam gameleiros do Enxudro porque era lá que se faziam.
Havia muitos castanheiros. Cortavam os castanheiros e com uma ferramenta escavavam e faziam uma gamela. A primeira que saía era maior, depois saía outra por baixo daquela que já era mais pequena. Até que chegava a uma pequenina para aproveitar a madeira do castanheiro.
E nessas gamelas é que a gente fabricava a broa. Eram assim redondas, não eram partidas, não deitavam água, eram vedadas. Aquilo era escavado com umas ferramentas e por fora arranjavam. Então a gente punha aí a farinha, punha-lhe o sal. Púnhamos uma panela ao lume com água a aquecer e depois aquela água se estava muito quente a gente tinha que lhe pôr um bocado de fria, temperava e era uma a amassar e outra a pôr a água. Eu amassei muita. Quando a minha mãe podia amassava ela e eu punha a água. Quando ela já não podia amassar ia eu. Era amassar, amassar, amassar até vermos que já não era preciso mais água. Quando a gente visse que ela que já estava na temperatura certa não se punha mais água. Juntava-se a massa, punha-se-lhe um bocadinho de farinha, tapava-se por cima. Punha-se-lhe um pano branquinho por cima, que naquele tempo havia muito linho. Era um pano de linho por cima e depois um cobertor ou dois para ela não arrefecer, para se levedar. Porque a gente tinha que a deixar estar a levedar que ela depois abria umas quebraduras. Quando ela tivesse aquelas quebraduras abertas, estava boa para ir para o forno. Então a gente botava o lume no forno, botava lá a lenha para o aquecer, andava ali um bocado a aquecer e depois quando estivesse já quente, puxava-se as brasas para fora com uma ferramenta que temos que se chama um rodo. Depois temos uma pá enfiada num pau. Uma está a tirar da gamela e a tender com uma tigela. Há uma tigela própria para tender a broa. Tirava da gamela com a mão e punha para a tigela. Depois fazia-se para ela ficar redondinha. Havia pessoas que não conseguiam baquear, chamavam aquilo baquear a broa, para ela ficar jeitosinha. Depois punha-se na pá e ainda pegávamos num bocadinho de farinha seca, púnhamos por cima dela, porque se o forno estivesse muito quente queimava a farinha mas a broa não se queimava.
Havia um forno do povo e era grande, muito grande e então, cozia mais que uma pessoa. Por exemplo, eu precisava de cozer, juntava aquela que também precisava e outra que também precisava e então juntávamo-nos todas e aquecíamos o forno em conjunto e diziam:
- “Vamos amassar.”
Tinham que amassar todas ao mesmo tempo, cada uma na sua casa mas ao mesmo tempo para depois estarem todas em condições para ir para o forno lêveda, chamava a gente levedar. Levedava-se a broa, cada uma levava a sua gamela lá para o forno, cada uma tendia a sua e havia uma pessoa que punha. Quando era mais que uma pessoa tinham que lhe pôr um sinal, senão depois não se conheciam. Então umas punham dois dedos, era o nariz, outras punham só um buraco. Cada uma é que sabia o que é que fazia. Depois ao tirar do forno, ela vinha com os sinais, cada uma tirava para levar para casa.
Eu tenho um forno para cozer a broa. Que todos os anos, quando é altura de Agosto, os meus filhos vêm a Monte Frio e eu cozo lá a chanfana. Não cozo broa porque não adianta, come-se pouca e o padeiro traz broa boa também. Mas a chanfana faço no forno de lenha porque eles gostam mais, é mais gostosa. Cozo também uma panela de feijão, que o feijão lá cozido no forno de lenha também é muito bom. Eles gostam no forno. E faço a tigelada. Faço tudo no meu forno mas é só meu, é no meu quintal. Mas naquela altura, era o forno do povo, de muita gente.