Era uma tristeza porque havia pobres que não tinham nada, nem dinheiro para viver. Era com as pensões que davam os filhos aos velhotes para eles sobreviverem, porque não tinham reformas. Agora não. Agora as reformas são muito pequenas, deviam ser muito maiores, porque tanto é uma boca do que recebe 500 euros como a boca do que recebe só 20, as bocas são iguais, têm que comer. Mas nessa altura nem pequenas, nem grandes, não havia nada. Era difícil. As pessoas viviam de umas ovelhas, tiravam-lhe a lã e vendiam. Viviam de uns queijos que faziam e vendiam. Vivia-se assim. Tinham umas coisas que iam fazendo algum dinheirito para comprar o arroz, o açúcar, a massa e assim estas coisas.
Era triste. Não tínhamos água em casa, não tínhamos luz. As ruas não tinham condições. Ainda hoje não temos saneamento. É tudo por fossas. Temos água em casa mas o esgoto das casas de banho ainda não está ligado.
Já ninguém vai aos poços. Há a água da rede que a Câmara fez o furo em cima no alto e está canalizada desse furo para uns depósitos e desse depósitos abastece a povoação. Então nessa altura é que toda a gente meteu água em casa porque tínhamos que ir às fontes, ao chafariz buscar, com os cântaros de barro que havia antigamente e trazia-se à cabeça, e um regador ou um jarro na mão. Ia-se buscar o balde para os animais e para nós. Depois é que veio a água.
As ruas eram todas de pedras e terra. Formaram uma Comissão de Melhoramentos, em que entrava também o meu marido e o meu pai. Começaram-se a pagar umas quotas, todos os meses ou todos os anos, e fizeram-se melhoramentos, as calçadas que hoje existem, a electricidade, o telefone e essas coisas todas.
Já estou velha para ver mudanças mas eu gostava de ver o saneamento feito, isso gostava.