Vendia vinho ao copo, aguardente e mercearia. Foi nos tempos em que ainda vinham sacos de 50 quilos de açúcar e sacas de 50 quilos de arroz. Tínhamos umas tulhas para despejar as sacas e um corredor para enchermos os cartuxos e para pesar. Eram aqueles cartuxos grossos de papel pardo. Ainda tenho a balança que os meus filhos não a deixaram tirar. Dizem que é uma recordação. O café, o açúcar, o arroz, era tudo pesado. Havia também o petróleo. Tínhamo-lo assim num bidão, num cantinho, e era medido. O azeite também era assim.
Havia os pirolitos, era o sumo Buçaco, que ainda hoje não há outro igual. Pode haver muitos, o Sumol é bom e tudo mas não há como esse sumo. Era uma garrafinha baixa, redonda, preta e tinha gravado o Buçaco. Era as gasosasitas, o pirolito, e era assim as bebidas.
Mas o que mais se vendia era vinho tinto, que era mesmo do barril. O meu marido trazia aqueles barris de 100 litros e 300 litros e a gente punha em cima de uma coisa e dali ia buscar uma garrafa, para vender ao copo ou cinco litros. Vinham, às vezes, com os garrafões buscar 5 litros. Vendia-se bastante vinho. Mas depois, o tempo evoluiu de uma maneira que depois chegou-se a vender mais leite do que vinho. Um copinho de vinho custava 5 tostões. Depois passou a 10 tostões. Iam aumentando conforme a coisa assim ia aumentando.
Tinha bolachas, marmelada, manteiga, assim umas roupinhas de casa, jogos de cama, jogos turcos de banho, era tudo assim misturado.
Tinha tabaco. Era o Português Suave, com filtro e sem filtro, era o Marlboro que veio mais tarde. Onças para fazer cigarros, depois era o Provisório, e o Três Vintes. Era um maço de tabaco que tinha 20, depois um traço, outro 20, depois outro traço, e outro 20. Chamavam-lhe Três Vintes.
Eu gastava de dois armazéns, que eram os Morgados de Arganil e os Monteiros de Oliveira do Hospital. Foram 44 anos que eu gastei deles. Foi uma vida.
Eu, às vezes, fechava um bocadinho para ir fazer qualquer coisa, que eu tinha que ir fazer, a uma hora que eu sabia que não havia assim muita gente. Fechava e elas chegavam aqui:
-“Ó Saudade, ó Saudade quero isto, quero aquilo.”
Era assim que me chamavam.
Vendia-se assim um pouquito de tudo. Vendia-se pouco mas ia-se vendendo. Também a gente não ia mandar vir assim uma remessa grande, porque sabia que não vendia. Ultimamente começaram a vir os prazos, então é que não podia mesmo. Se a mercadoria estava fora de prazo já não se podia vender. Por exemplo, uma caixa de manteiga, uma caixa de pacotes de margarina, trazia 30, 40. A gente era muito difícil vender assim logo de repente 40 ou 30 pacotes de manteiga. Tivemos que começar a optar por comprar nos supermercados. Ultimamente, já era assim, para comprar só à medida do que a gente vendia.