A minha vida nunca foi fácil. Eu casei-me não tinha um lençol, um garfo, um copo, um prato, um colchão ou uma cama. A minha mulher andava a servir, nada tinha também. Pedi-a em casamento e fui à mercearia comprar o pano, para uma costureira me fazer o colchão, para encher cheio de palha, como era antigamente. E fiquei a dever, não tinha um tostão para pagar aquilo. A senhora fiou-me. Dizia ela para mim:
-“Zé, tens tudo quanto queiras em minha casa.”
Fiquei a dever 1500 escudos à senhora. Naquele tempo vi-me aflito. Paguei-lhe graças a Deus, tive sempre ali uma casa aberta, o que eu quisesse daquela casa tinha, por eu ser tão sério.
Casei em Setembro, no dia 23 de Setembro. O meu casamento no lugar de ser na Benfeita foi aqui. O padre levou-me 300 escudos por me ir casar. Fiquei sem um tostão. Quanto eu tinha comigo eram 300 escudos, naquele tempo, parece que não, já era dinheiro. Lembro-me da roupa, eu levava um fatinho castanho que tinha e ela era uma saiinha e uma blusa. No dia do casamento não sei as pessoas que eram, se eram 20 ou 30. Fui para uma casinha, que a minha mãe, coitadinha, não podia e eu também não. Eu é que fiz a despesa toda. Foi na casa onde fiquei. Fiz o casamento, comeram ali, eles foram-se embora e eu fiquei logo ali.