Também trabalhei nos correios. Havia aquela pessoa que tinha um estabelecimento e a gente ia buscar a mala fechada, chegávamos ali e púnhamo-la lá. A senhora abria a mala e quem queria ia buscar o correio. Tínhamos que lá ir uma vez por dia, só que íamos à vez. Como a vida era muito difícil, pedíamos à senhora para ir distribuí-lo. Às vezes havia uma pessoa dava um bocadinho de pão, outra dava outro bocadinho para eu comer e depois para a minha mãezinha comer. Não éramos obrigados a distribuir mas o pessoal se pudesse ganhar alguma coisinha é que fazia isso. As minhas irmãs também iam. A minha mãe mandava-nos segundo o serviço que havia em casa:
- “Hoje és tu que lá vais.”
E a gente ia. Era assim. Para ir buscar o correio a gente levantava-se e saía daqui às nove horas. Tinha que ir à Relva Velha buscar o correio. Depois tinha que vir para Monte Frio e tinha que se ir, tudo a pé para os Pardieiros e dos Pardieiros para a Benfeita. E fazia-se o mesmo giro outra vez. Era um dia inteiro para ganhar 10 tostões. Descalços. É um reportório a minha vida!